Edgar Ferreira
Barbosa nasceu em 16 de fevereiro de 1909 em Ceará-Mirim e faleceu aos 67 anos,
em 15 de fevereiro de 1976, ano em cheguei a Natal. Passou a infância em
Ceará-Mirim e, em 1921, aos 12 anos, veio para Natal onde estudou no Colégio
Marista até 1929. Trabalhou em jornais, dentre eles “A República”, iniciando
aos 18 anos como revisor, depois chefe-redator, chegando a Diretor da Imprensa
Oficial. Casou-se jovem, aos 21 anos, com a pianista Dolores Albuquerque e teve
4 filhos.
Formou-se aos 23
anos, em 1932, na Faculdade de Direito do Recife. Foi um dos fundadores da
OAB/RN. Exerceu a profissão de advogado por pouco tempo, pois logo resolveu
abraçar a magistratura, como Juiz Federal substituto em 1937. Professor de
Português do Atheneu e da Escola de Aprendizes de Artífices (IFRN), ocupou a
cadeira nº 5 da Academia Norte-rio-grandense de Letras chegando ao cargo de
presidente.
Foi membro de honra
da Aliança Cultural Franco-Brasileira, Presidente do Conselho Deliberativo do
Instituto Brasil-Estados Unidos, Redator-Secretário da Revista do Tribunal de
Justiça e Presidente do Rotary Clube.
Professor de
Direito Constitucional e Legislação de Menores, de Direito Internacional e
Teoria Geral do Estado da Faculdade de Direito de Natal, da qual foi um dos
fundadores. Foi professor, também de Filosofia Românica e Literatura Brasileira
e Portuguesa da Faculdade de Filosofia de Natal, de onde foi Diretor.
Juntamente com Onofre Lopes, ajudou a criar a UFRN. Foi o fundador da Faculdade
de Filosofia que deu origem à criação do Centro de Letras e Arte da UFRN.
Edgar Barbosa era
erudito, dominava qualquer assunto de áreas diversas. Era tímido. Um jornalista
sério, comprometido com uma imprensa democrática. Valorizava a ética e a moral
ea verdade como valor absoluto. Segundo anotações em jornais, colegas diziam
que ele era um magistrado sem vaidade do cargo. Foi um jurista de invejável
saber filosófico e humanista. Alunos da UFRN o consideravam um mestre sábio
sempre dando exemplo de outras culturas. Apesar de ter mais de três mil
trabalhos (crônicas e ensaios) publicados em jornais e revistas, não se
preocupava em editá-los. Em suas crônicas, nos anos 1920, ele abordava a
liberdade de expressão, a problemática do ensino público e a importância do voto
feminino.
O escritor Franklin
Jorge relata que o memorialista Edgar Barbosa fazia de qualquer rasgo de
memória uma crônica e conseguia falar de sua cidade natal com seus vales
férteis como se fora recortada por um Nilo transplantado para lá por um
sortilégio de Deus. Edgar captou a alma do homem universal e dos lugares de sua
infância, percebendo-se nitidamente nos textos sobre Henrique Castriciano,
Juvenal Lamartine, Padre Monte, na descrição do jasmineiro de Auta de Souza e
até de um velho engenho. Na época da guerra, Edgar Barbosa escrevia crônicas
diárias sobre a importância da paz mundial. Seus textos chegaram a outros
países através de agentes estrangeiros e, como consequência, ele recebeu do
reitor, filósofo e escritor espanhol Dom Miguel de Unamuno (1864-1936) a Flama
Olímpica da Universidade de Salamanca, homenagem almejada por muitos. Recebeu
também uma carta do Rei George VI (1895-1952), do Reino Unido, pai da rainha
Elizabeth II, parabenizando-o pelo seu trabalho na luta pela paz dos povos.
O escritor Nilo
Pereira, seu conterrâneo, dizia que Edgar Barbosa foi o maior escritor que
Ceará-Mirim produziu em qualquer tempo. Precoce e inteligente, foi aclamado
como o príncipe dos escritores potiguares. Porém, manteve-se modesto e
sem vaidade para com as medalhas e prêmios que lhe concederam. Edgar Barbosa
dizia que “era melhor merecê-las sem as ter do que tê-las sem merecer”.
Carlos Roberto de
Miranda Gomes, em sua crônica sobre Edgar Barbosa, relata que seu professor era
ameno por natureza, passos comedidos, gestos suaves e falar pausado. Jamais
negava atenção a quem dele se aproximava, sempre levando uma palavra de
esperança ou proclamando sua decepção diante de fatos políticos que não
tivessem trânsito pela essência da democracia. Na Faculdade de Direito, da
velha Ribeira, chegava com pontualidade e vestido com impecável terno de linho
branco, que fazia mais claro o dia e brindava os seus alunos com aulas
inesquecíveis, sempre na direção do espírito do Direito Constitucional, em sua
expressão essencial, sem gastar tempo com os textos legislados. Posicionava-se
contra o regime militar, que se instalou no Brasil em 1964, mas ao proferir
suas aulas, a sua postura crítica, a sua autoridade moral e o respeito que
impunha, nunca permitiu que lhe fosse colocada uma mordaça, tanta era sua
autoridade moral, tanto o respeito que impunha.
O poeta Diógenes da
Cunha Lima foi seu aluno da disciplina Direito Constitucional, e dizia que suas
aulas eram de humanismo. Durante a ditadura, ele não poupava críticas aos
militares detentores do poder discricionário.
Manoel Onofre
Júnior, em seu livro Alguma Prata da Casa, 2ª. Edição, pela 8 Editora, 2016,
fala do mestre Edgar como um exemplo de humanista e um dos mais eminentes
vultos da cultura potiguar. Enxerga-o como um artista conhecedor da palavra,
leitor de grandes clássicos, homem de grande cultura, amante das letras, pois a
palavra escrita afigura-se-lhe como algo precioso, que nem ouro ou prata.
Vários colegas
escritores escreveram sobre Edgar Barbosa: Veríssimo de Melo dizia que ele era
discreto e modesto, pois apesar de ter escrito uma vasta obra, publicou poucos
livros. O ensaísta Américo de Oliveira Costa, falecido, autor de A
biblioteca e seus habitantes (1982), escreve sobre Edgar Barbosa e faz o
resgate de seus ensaios de alta qualidade. Dentre eles: “Camões lírico”, “A
justiça no reino do Quixote” e “Machado de Assis em alguns dos seus
tipos”. Conforme nos relata o escritor Nelson Patriota em seu livro Uns
Potiguares, escritos sobre as letras norte-rio-grandense e outras, Editora
Sarau das Letras; 2009, a Editora da UFRN resgatou junto à família do escritor
sua obra jornalística ao longo de 40 anos, com mais de três mil artigos que
escreveu para jornais e revistas. O objetivo almejado foi o de selecioná-la e
publicá-la em comemoração ao seu centenário com o título: Artigos e Crônicas de
Edgar Barbosa. Nelson Patriota, organizador da obra, nos diz que o próprio
Edgar havia colecionado cuidadosamente, por ordem cronológica, parte de seus
artigos, provavelmente prevendo uma futura publicação, o que somente ocorreu 32
anos depois de sua morte. A maioria das crônicas e ensaios foram escritas para
a revista Cigarra (década de 1920) para o jornal a República, quando ele
estreia a partir de 1927 e para o Diário de Natal.
O seu livro
História de Uma Campanha, com 439 páginas, foi relançado pela Editora da UFRN
em 2008, em comemoração aos 50 anos da UFRN. Isso ocorreu depois de 72 anos da
sua primeira edição, na gestão do Reitor José Ivonildo Rego. O livro apresenta
a luta por um partido popular democrático na defesa da democracia contra um
partido dominador de poderosos. Venceu o partido popular, gerando incômodos
para os perdedores do coronel Felismino do Rego Dantas. Vale salientar
que Edgar Barbosa enterrou, no quintal de sua casa, grande parte da edição
desse livro, na tentativa de abafar a corrupção, os jogos de manobra e a
violenta campanha política geradora de assassinatos na família.
Edgar Barbosa
publicou apenas quatro livros: História de uma Campanha (1936/2008), Três
Ensaios (1960), Românticos Norte-Americanos e outras Conferências (1966) e
Imagens do Tempo (1966) e após sua morte Artigos e Crônicas de Edgar Barbosa
(2009). Em 2009, a Editora da UFRN resgata junto à família do escritor sua obra
jornalística a fim de publicá-los em comemoração ao seu centenário, conforme
nos relata Nelson Patriota em seu livro Uns Potiguares, escritos sobre as
letras norte-rio-grandense e outras, Editora Sarau das Letras, 2012.
Edgar é um nome
muito forte. O que me faz lembrar o poeta americano Edgar Allan Poe, nascido em
1809, editor e crítico literário. Escreveu contos e foi o pioneiro a criar um
detetive e um ajudante das histórias de mistérios. Edgar Wallace, 1875, inglês,
escreveu 175 livros, 160 adaptados para o cinema, além de 24 peças de teatro.
Edgar Rice Burroughs, nasceu em 1875, americano, criou o personagem Tarzan – o
rei das selvas e Edgar Morin, 1921, filósofo francês, antropólogo e sociólogo.
Edgar Barbosa, nos
seus escritos, levantou a bandeira da paz, como também o faz Edgar Morin, que,
aos 99 anos, continua dando palestras no mundo inteiro sobre educação e
cultura, falando sobre a importância de valorizar o plural, a solidariedade, a
igualdade de direitos, o respeito à diversidade, pois somente assim teremos um
mundo melhor, em paz.
Quero agradecer ao
Dr. Carlos Roberto de Miranda Gomes por ter me cedido sua crônica com fatos
vivenciais com o professor Edgar Barbosa, ao escritor Manoel Onofre Júnior pelo
livro Alguma Prata da Casa, ao jornalista Franklin Jorge, diretor de redação da
Navegos, que pacientemente me passou informações valiosas sobre o notável Edgar
Barbosa.
Findo deixando meu
protesto ao apagamento, ao memoricídio, que nos impossibilitam de sorver as
obras de nossos escritores.
FONTE – SITE NAVEGOS